Prezados investidores,
Maio foi marcado por uma combinação de alívio inflacionário nos Estados Unidos, tensões comerciais persistentes e uma performance resiliente dos ativos brasileiros. O cenário global continua desafiador, com políticas monetárias cautelosas e incertezas geopolíticas moldando as expectativas dos mercados.
Estados Unidos
Nos EUA, o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre foi revisado para uma contração anualizada de 0,2%, levemente melhor que a estimativa inicial de -0,3%. Esse declínio foi impulsionado por um aumento significativo nas importações, que subtraíram mais de 5 pontos percentuais do crescimento, refletindo a antecipação de compras antes da implementação de tarifas adicionais sobre produtos chineses.
A inflação mostrou sinais de moderação. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) subiu 2,3% em abril em relação ao ano anterior, a menor taxa desde fevereiro de 2021. O índice de Preços de Gastos com Consumo Pessoal (PCE), medida preferida pelo Federal Reserve, também desacelerou para 2,1%. Apesar disso, os custos de habitação permanecem elevados, com o componente de abrigo do CPI aumentando 4% ano a ano em abril, o que pode pressionar a inflação nos próximos meses.
O presidente Donald Trump intensificou a pressão sobre o Federal Reserve para reduzir as taxas de juros, argumentando que os custos de empréstimos elevados colocam os EUA em desvantagem competitiva. No entanto, o presidente do Fed, Jerome Powell, reiterou a independência da instituição e a dependência de dados para decisões futuras.
Europa
Na zona do euro, a inflação anual permaneceu estável em 2,2% em abril, alinhada com a meta do Banco Central Europeu (BCE). A inflação de serviços aumentou para 2,7%, refletindo pressões salariais persistentes. O BCE cortou as taxas de juros em 25 pontos-base, buscando estimular a economia diante de sinais de desaceleração, especialmente na Alemanha, onde as vendas no varejo caíram 0,2% em março.
China
A economia chinesa cresceu 5,4% no primeiro trimestre em relação ao ano anterior, superando as expectativas. No entanto, o PMI manufatureiro caiu para 49,0 em abril, indicando contração na atividade industrial. As tensões comerciais com os EUA e a consequente queda nas exportações continuam a pesar sobre o crescimento. Analistas agora projetam um crescimento anual de 4,5% para 2025, abaixo da meta oficial de 5%.
Brasil
O real manteve-se valorizado em maio, com o dólar oscilando em torno de R$5,66, próximo aos níveis mais fortes desde outubro do ano passado. Essa valorização foi sustentada por fluxos de capital estrangeiro em busca de juros reais elevados e por fundamentos macroeconômicos relativamente sólidos.
A bolsa brasileira atingiu novos recordes, com o Ibovespa ultrapassando os 140 mil pontos pela primeira vez na história em 20 de maio. O índice foi impulsionado por uma entrada líquida de R$10 bilhões de investidores estrangeiros apenas em maio, elevando o total acumulado no ano para R$20,5 bilhões. Setores como real estate e serviços se destacaram, refletindo a confiança dos investidores na recuperação doméstica.
A inflação medida pelo IPCA-15 desacelerou para 0,36% em maio, a menor taxa para o mês desde 2020. No acumulado de 12 meses, a inflação caiu para 5,4%, abaixo dos 5,49% registrados em abril. Apesar da melhora, a taxa ainda permanece acima da meta do Banco Central, exigindo cautela na condução da política monetária.
No entanto, o cenário fiscal apresenta desafios. O governo projeta que a dívida bruta alcance 84,2% do PIB em 2028, apesar de metas crescentes de superávit primário a partir de 2026. A manutenção de juros elevados e a necessidade de reformas fiscais estruturais são pontos de atenção para a sustentabilidade das contas públicas.
Canadá
O Canadá apresentou estabilidade econômica em maio, mas com sinais crescentes de desaceleração. O PIB cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre, frustrando expectativas e elevando apostas de cortes de juros já no terceiro trimestre. A inflação anual caiu para 2,7%, puxada por recuos nos preços de energia e moderação nos aluguéis, apesar de persistirem pressões em serviços. O Banco do Canadá manteve a taxa básica em 5%, mas sinalizou maior sensibilidade aos dados futuros, adotando tom mais dovish em suas comunicações recentes.
O mercado de trabalho continua apertado, com taxa de desemprego em 6,2%, mas a criação de vagas tem perdido fôlego. O dólar canadense (CAD) se enfraqueceu frente ao dólar americano e ao real, refletindo a perspectiva de menor diferencial de juros frente aos EUA e ao Brasil. O setor imobiliário, tradicional motor de crescimento canadense, mostra sinais de esfriamento, com quedas nos preços médios de imóveis em Toronto e Vancouver. O risco de uma correção mais ampla nesse setor é um tema crescente entre analistas locais.
Suíça
Na Suíça, o cenário econômico manteve-se estável, embora sem sinais de aceleração. A inflação ao consumidor fechou maio em 1,4% no acumulado de 12 meses, abaixo da meta do Banco Nacional Suíço (SNB) e entre as mais baixas do mundo desenvolvido. A estabilidade inflacionária e o franco suíço forte permitiram ao SNB cortar os juros em 25 pontos-base, para 1,25%, em linha com o movimento do BCE.
O franco suíço (CHF) valorizou-se frente ao euro, refletindo sua tradicional posição de porto seguro, especialmente em meio à persistente incerteza geopolítica global. O setor de exportações sofreu com a valorização cambial, mas a Suíça tem se beneficiado do aumento da demanda por ativos de refúgio – como ouro e produtos financeiros – sustentando sua balança em níveis positivos. O crescimento do PIB, projetado em 1,1% para 2025, segue anêmico, mas sustentado por consumo interno estável e disciplina fiscal contínua.
Japão
O Japão atravessou mais um mês de fragilidade cambial e dúvidas sobre a condução de sua política monetária. O iene renovou mínimas de 34 anos frente ao dólar, aproximando-se de 157 ienes por dólar no final de maio, o que levou o Banco do Japão (BoJ) e o Ministério das Finanças a intensificarem intervenções verbais e manterem vigilância sobre os mercados. Embora o BoJ tenha promovido um tímido aperto em março, elevando a taxa de depósitos para 0%, o diferencial de juros com os Estados Unidos continua a pressionar a moeda.
A inflação ao consumidor subiu 2,5% em abril na comparação anual, acima da meta de 2%, mas com sinais de desaceleração no núcleo. A política do BoJ permanece altamente acomodatícia, refletindo incertezas quanto à sustentabilidade da inflação e ao crescimento doméstico. O PIB do primeiro trimestre contraiu 0,4% em termos anuais, refletindo fraca demanda interna e exportações pressionadas pelo iene forte e pela desaceleração na China.
Apesar do ambiente externo adverso, o mercado acionário japonês mostrou alguma resiliência, com o Nikkei oscilando em torno dos 38 mil pontos, sustentado por recompras corporativas e por fluxos internacionais seletivos. Ainda assim, o país continua navegando um ciclo de normalização monetária lento e vulnerável à dinâmica de política monetária americana e ao comportamento cambial.
Em maio, chamou atenção a disparada das taxas longas no Japão, com o juro do JGB de 10 anos rompendo o patamar de 1%, maior nível desde 2011. O JGB de 30 anos, alcançou a maior taxa da história, uma vez de que desde quando foi emitido pela primeira vez, nunca havia operado acima da taxa de 3% ao ano. Esse movimento reacendeu o debate sobre a sustentabilidade da dívida pública japonesa — hoje acima de 260% do PIB — e colocou pressão sobre outras economias desenvolvidas igualmente endividadas. A correlação crescente entre o custo de rolagem da dívida e a política de normalização monetária tem implicações sistêmicas, uma vez que grande parte do mundo desenvolvido opera com alavancagem fiscal elevada. A reprecificação dos juros de longo prazo no Japão, até recentemente símbolo da repressão financeira, expôs um risco latente que pode reverberar globalmente, caso esse novo patamar se consolide.
Considerações Finais
Maio trouxe sinais mistos para a economia global. Enquanto a inflação nos EUA mostra sinais de moderação, as tensões comerciais e os custos persistentes de habitação podem limitar o espaço para cortes de juros. Na Europa, o BCE adota uma postura mais acomodatícia diante de uma inflação estável, mas desafios econômicos persistem. A China enfrenta dificuldades para manter o ritmo de crescimento, impactada por disputas comerciais e demanda interna fraca. E as taxas longas de juros em geral tem chamado a atenção, reacendendo o debate de sustentabilidade de longo prazo desse nível de endividamento.
No Brasil, a valorização do real e o desempenho robusto da bolsa refletem a atratividade dos ativos locais em um cenário global volátil. No entanto, a sustentabilidade fiscal e a trajetória da inflação continuam sendo fatores críticos para a manutenção desse otimismo.
Seguimos atentos aos desdobramentos das políticas monetárias globais, às tensões geopolíticas e aos indicadores econômicos domésticos, ajustando nossas estratégias para navegar em um ambiente de incertezas e oportunidades.