Oceanpact: Um oceano de oportunidades
Escrito por: Pedro Nogueira

Oceanpact: Um oceano de oportunidades

A empresa

A Oceanpact é uma das principais prestadoras de serviços de suporte marítimo do Brasil, com foco na área de produção de petróleo. As operações da empresa são divididas em dois segmentos, sendo eles Embarcações e Serviços. Dentro desses segmentos, a empresa opera em três áreas de atuação:

Ambiental: serviços de proteção ambiental, levantamentos oceanográficos, licenciamentos e estudos ambientais, segurança operacional e remediação ambiental;

Subsea: serviços de geofísica, geotecnia, inspeção, reparo e manutenção, posicionamento e suporte à construção e descomissionamento;

Logística e Engenharia: Serviços de logística marinha, bases de apoio offshore, engenharia portuária e costeira, obras e dragagens e facilities e limpeza industrial.

 

O segmento de Embarcações representa aproximadamente 80% da receita e do EBITDA da empresa, enquanto Serviços representa a parcela restante de ambos. A empresa conta com uma frota de 28 embarcações e, apesar de estar presente em toda a cadeia de exploração e produção de petróleo, concentra suas atividades na fase de produção. Isso ocorre, pois, a produção se dá de forma praticamente intermitente, estando menos exposta à variação do preço do petróleo.

Os contratos das embarcações da empresa são adquiridos através de leilões com duração e diárias pré-estabelecidas. Apesar de a Petrobras representar grande parte da receita da empresa, ela também tem contrato com IOCs (International Oil Companies). Os contratos com a Petrobrás têm duração de quatro anos, prorrogáveis por mais um ano, antes que haja um novo leilão para determinar quem será o prestador do serviço a uma nova diária.

Os contratos com a Petrobras têm parcela em dólar (USD) e em reais (R$) e o mix é acordado entre as partes. A parcela em reais é reajustada pela inflação no aniversário do contrato e a parcela em dólares varia de acordo com a taxa de câmbio, sem reajustes. Os contratos com as IOCs têm uma duração menor, variam, em média, de um a dois anos e são 100% em dólar.

Como dito anteriormente, ao expirarem, os contratos estão up for new bids, o que implica um risco de renovação. Porém, a probabilidade de renovação é grande, dada a elevada taxa de especificação de cada contrato. Ao serem contratados, os navios passam por customização de forma que estejam aptos a prestarem o serviço de acordo com as especificações pré-programadas, gerando incentivo para a empresa contratante manter seu contrato com a prestadora de serviço.

Dentro do segmento de Embarcações, podemos destacar alguns serviços prestados através de algumas embarcações. Os RSVs (Remotely Operated Vehicle Suport Vessel) são embarcações de apoio projetadas para o lançamento e operação de ROVs, um pequeno veículo operado remotamente que atua no fundo do mar, no manuseio e montagem de equipamentos submarinos offshore.

Por serem embarcações de maior complexidade, os RSVs contam com maior número de marinheiros e com os melhores comandantes da empresa, o que implica maiores custos de operação. Dessa forma, apesar de terem diárias mais elevadas, eles apresentam margens menores.

Os PSVs (Platform Supply Vessel) são navios cuja principal função é transportar suprimentos para as unidades marítimas (ex: plataformas de petróleo). Esses, por serem barcos de menor complexidade e cuja função é essencialmente logística, contam com tripulações menores e menos especializadas, apresentando diárias menores, mas, em compensação, margens melhores.

No segmento de Serviços, vale ressaltar a unidade de Oil Spill, relacionada ao derramamento de óleo no mar. Esse serviço gera boas receitas e boas margens, dado que além de ofertarem o serviço em si, podem também alugar os equipamentos para outras empresas. O ROIC da operação é muito elevado (poucas ou até mesmo nenhuma pessoa envolvida, CAPEX da compra do equipamento e baixa manutenção) e a empresa conta com baixa competição, dado que ela é, após a Petrobras, o maior player do mercado.

Vale destacar também a Environpact, braço de consultoria da empresa, que realiza, onshore e offshore, licenciamentos ambientais, simulados de emergência, planos de recuperação de áreas degradadas, projetos de reflorestamento, dentre outros serviços. Margens e ROIC da operação são elevados dado que seu custo é basicamente pessoal e não conta com CAPEX. Um contrato importante onshore foi com a Vale, ao prestarem serviços durante o acidente de Brumadinho.

 

Management e Desafios Operacionais:

O CEO, fundador e principal acionista da empresa, Flavio Andrade, tem mais de 37 anos de experiência em serviços ambientais e marítimos, mas, cabe destacar, que o CFO, Eduardo de Toledo, é uma figura central para a empresa.

Eduardo, com passagem pela Klabin, Grupo Ultra e CCR, está na Oceanpact desde 2022. A sua chegada marcou uma mudança importante na empresa e em seus processos. Atualmente o foco está em reduzir e baratear o endividamento, bem como na rentabilização dos ativos existentes. Apesar de não ser líder do setor (tem a terceira maior frota do mercado), a empresa entende que não faz mais sentido adquirir novas embarcações (a menos que seja um excelente negócio e que se pague na vida útil de um contrato de prestação de serviços) e que o foco deva ser o de gerar mais valor com os ativos que já têm.

Do ponto de vista do endividamento, apesar de ser menos alavancada que a concorrência, a empresa tem uma dívida cara (CDI + 5%) e suas atenções estão voltadas para a redução, barateamento e alongamento dela. Esse é um ponto que já vem sendo endereçado, com R$150 milhões de endividamento a CDI +5% sendo renegociados com o Fundo da Marinha Mercante a USD + 3%.

Houve também uma melhoria no processo de tomada de decisão e de alocação de capital. Os processos dos bids para os leilões foram aperfeiçoados, com simplificação do comitê executivo responsável pela tomada de decisão e maior interação entre o time comercial e a área financeira.

Outra mudança importante se deu no lado operacional. Agora, cada divisão (Embarcações e Serviços) conta com um COO específico. Do ponto de vista das embarcações, o foco está em reduzir o gap de eficiência operacional da empresa para seus concorrentes.

Uma questão importante diz respeito à homogeneidade da frota de embarcações, que afeta a produtividade da empresa. Por ter adquirido seus barcos de diferentes vendedores, sua frota é significativamente mais heterogênea do que de seus concorrentes que, em sua maioria, construíram suas embarcações. Isso acarreta maior curva de aprendizado no manuseio e no reparo dos barcos e, por fim, reduz a eficiência operacional da empresa frente à concorrência.

Dessa forma, o COO da divisão de Embarcações está totalmente focado em reduzir o prazo entre as manutenções e na otimização das docagens, de forma a reduzir a ociosidade operacional.

 

Fundamentos de mercado

Durante os anos 2000 e o início dos anos 2010, com a alta do preço do petróleo e a descoberta do Pré-Sal, a frota de embarcações de apoio marítimo brasileira passou por uma enorme expansão, com diversas novas embarcações sendo construídas e a Petrobras tendo papel central no modelo de negócios da indústria.

Na primeira metade dos anos 2010, com a queda do preço do petróleo e com o início da operação Lava Jato, contratos foram desfeitos e projetos das empresas de óleo e gás (O&G) foram postergados ou mesmo cancelados. Isso fez com que muitas embarcações ficassem descontratadas, gerando uma queda acentuada nos valores das diárias. Dessa forma, criou-se um ambiente de superoferta de embarcações.

Após a pandemia, a demanda por embarcações vem crescendo. Devido à queda das diárias que, ajustadas à inflação do período, ainda estão aquém de suas máximas vistas no início dos anos 2010, nenhum novo barco foi construído desde 2013. A demanda, por outro lado, segue crescendo.

O ambiente, então, se mostra propício para o aumento das diárias até que haja a entrada de novas embarcações no mercado. Ao mesmo tempo, tomando apenas como exemplo a Petrobras, serão demandadas mais de 50 novas embarcações apenas para suprir as necessidades do Plano Estratégico da empresa, que construirá 18 FPSOs até 2026, além da demanda vinda da Margem Equatorial e do projeto de energia eólica offshore.

Um ponto importante, que vale destaque, é a regulamentação local que exige que as empresas de O&G deem preferência a embarcações de bandeira nacional, só podendo contratar embarcações estrangeiras em caso de esgotamento das opções locais. Ao mesmo tempo, devido às dificuldades relacionadas à operação no Brasil (por exemplo, toda tripulação precisa, obrigatoriamente, falar português), à logística e aos “traumas” relacionados ao período da Lava Jato, há certa dificuldade de se conseguir locar barcos estrangeiros.

Vale destacar, também, o tempo necessário para a construção de um novo barco. Mesmo que as tarifas estejam elevadas o suficiente para justificar a construção de uma nova embarcação, o tempo de construção seria um empecilho para suprir a oferta de forma imediata. No Brasil, devido ao estado dos estaleiros, o prazo é estimado em 3 anos, enquanto em outros países o tempo necessário seria 2 anos. Tal contexto, então, cria uma barreira de entrada no setor, favorecendo os incumbentes locais.

Tendo em vista o período de aquisição dos barcos da Oceanpact, que se deu ao longo dos anos de 2010, atualmente, aproximadamente dois terços de sua frota se encontram locadas a diárias abaixo daquelas praticadas atualmente no mercado. Devido ao ambiente “apertado” de oferta e demanda, a empresa tende a crescer através da elevação das diárias, que serão atualizadas de acordo com as tarifas de mercado até 2025.

Dado o management mais racional, com maior foco na rentabilização dos ativos, de fato essa tende a ser a forma como o crescimento do segmento de Embarcações se dará. Além disso, tendo em vista que a maior parte de seus custos é relacionado a pessoal, que tende a crescer de acordo com a inflação, tal crescimento se traduz em ganho de rentabilidade, uma vez que as tarifas devem crescer acima do custo de mão de obra. De forma conservadora, então, acreditamos que a empresa seja capaz de gerar um EBITDA de aproximadamente R$700 milhões em 2026, com uma margem EBITDA superior a 30%.

A empresa, então, conta com boas perspectivas do ponto de vista de crescimento de receita e ganho de rentabilidade e, além de prestar um serviço essencial para seus clientes, representa uma participação relativamente baixa em seus custos totais. De acordo com a empresa, seus serviços correspondem a aproximadamente 5% do lifting cost da Petrobras e até 15% do para as IOCs.

 

Conclusão

Apesar dos desafios operacionais ainda enfrentados pela Oceanpact, entendemos haver melhorias claras em curso e um time experiente e com sentimento de dono se dedicando ao aperfeiçoamento financeiro e operacional.

Do ponto de vista financeiro, não só a questão do endividamento está sendo endereçada, como sua exposição a um mercado apertado em termos de oferta e demanda permite a empresa crescer suas receitas e ganhar rentabilidade.

Reconhecida como um top notch operator, a empresa está presente principalmente na produção de petróleo, reduzindo sua exposição à volatilidade dos preços da commodity. Além disso, se mostra barata em diversas métricas, inclusive do ponto de vista do custo de reposição, sendo negociada a aproximadamente 50% do valor de mercado de suas embarcações.

Com isso, o fechamento do gap operacional e de rentabilidade da empresa frente a seus concorrentes e a redução do endividamento tendem a agregar valor ao acionista e a gerar bons retornos sobre o capital.

Porém, apesar de suas boas perspectivas futuras, também reconhecemos os desafios enfrentados pela empresa, bem como seu grau de alavancagem. Por essas razões, até que possamos enxergar maiores avanços, optamos por montar uma posição pouco relevante na empresa. Entendemos que essa é uma tese que exige tempo e estamos mais do que dispostos a aumentar nossa exposição conforme nossas expectativas forem atingidas.

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