Prezados investidores,
Outubro de 2025 consolidou a divergência entre a realidade econômica e o comportamento dos mercados de capitais, com destaque para a crescente concentração de valor nas bolsas desenvolvidas. A inflação nos Estados Unidos, embora persistente, não impediu que o foco do mercado se voltasse para a euforia setorial. Na China, a desaceleração industrial e a deflação seguiram demandando estímulos. No Brasil, apesar da deterioração do cenário político doméstico, o fluxo de capitais estrangeiros manteve-se surpreendentemente positivo, refletindo uma alocação mais ampla para ativos de mercados emergentes.
Estados Unidos
Nos EUA, os dados econômicos trouxeram alívio parcial à pressão inflacionária. A inflação anualizada (CPI) subiu para 3,0% em setembro, em linha com as expectativas. No entanto, o cenário político impediu a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do 3º trimestre, gerando incerteza sobre a real magnitude da atividade. No mercado de ações, a alta persistente e a atingida de novas máximas históricas levantaram crescentes preocupações. O rally continuou altamente concentrado em um pequeno grupo de ações, impulsionadas pelo entusiasmo com o setor de Inteligência Artificial (AI). Essa concentração e os altos níveis de preço em setores específicos são vistos por muitos analistas como sinais preocupantes de euforia e bolha. Adicionalmente, a valorização contínua do ouro em paralelo com as ações, juntamente com o aumento de operações com “deals circulares”, que inflacionam o volume sem adicionar liquidez real, sugerem uma alocação de risco distorcida no mercado. O Fed, em meio à paralisação do governo, reforçou que a próxima decisão monetária dependerá estritamente dos dados de inflação e emprego, que têm apresentado sinais de enfraquecimento.
Europa
Na Zona do Euro, a atenção se manteve sobre a estabilidade fiscal dos membros centrais. O yield da dívida francesa continuou pressionado, superando os da dívida italiana, o que representa um alerta inédito sobre o risco fiscal na região e gera instabilidade na periferia do bloco. O Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa de depósito em 2,0%, reiterando a estratégia de paciência diante da inflação que se mantém próxima da meta e da atividade que se recupera de forma gradual.
China
A economia chinesa continuou a registrar sinais de desaceleração. O crescimento do PIB no 3º trimestre atingiu 4,8% anualizado, ficando abaixo da meta oficial e do trimestre anterior. Os preços ao consumidor caíram em setembro, confirmando a persistência da pressão deflacionária, o que força as autoridades a sinalizarem a necessidade de novos e mais robustos estímulos fiscais e monetários para o fechamento do ano. O comércio exterior foi afetado pelo protecionismo global, mas o varejo mostrou alguma resiliência.
Suíça e Japão
Na Suíça, a estabilidade e a inflação baixa, em torno de 1,5%, mantiveram o franco suíço como ativo de refúgio. O Banco Nacional Suíço (SNB) monitorou de perto a instabilidade fiscal na Europa. No Japão, o iene permaneceu enfraquecido, com o Banco do Japão (BoJ) ainda em um ciclo de política monetária frouxa, enquanto o mercado global pressiona pela normalização dos juros, que poderá ser um ponto de virada para a renda fixa global.
Brasil
No Brasil, a deterioração da situação fiscal continuou sendo o principal vetor de risco. O Governo Central registrou um déficit primário de R$ 14,5 bilhões em setembro, o pior resultado para o mês desde 2020. O déficit acumulado no ano atingiu R$ 100,4 bilhões. As contas públicas sinalizam a dificuldade em reverter a trajetória de aumento da Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que atingiu 78,1% do PIB em setembro. A falta de convergência entre a política monetária, que mantém a Selic em 15,00% na luta contra a inflação (IPCA com projeção de 4,55% para 2025), e a política fiscal é a maior vulnerabilidade.
No plano político, a incerteza aumentou em outubro com a aparente desistência da candidatura de Tarcísio de Freitas à presidência em 2026, um nome que representava uma opção de centro para o mercado. Apesar dessa piora no cenário político doméstico e da persistência do risco fiscal, o mercado brasileiro demonstrou resiliência surpreendente. Houve um fluxo aparente e consistente de capital estrangeiro para a B3 e para o mercado de câmbio durante o mês. Essa dinâmica sugere que investidores globais podem estar realizando uma alocação oportunística para Emerging Markets em geral, movidos pelos valuations relativamente descontados após o rally concentrado nos EUA, e o Brasil se beneficia marginalmente desse movimento, mesmo com seus riscos intrínsecos.
Considerações Finais
Outubro ressaltou a dicotomia entre os mercados desenvolvidos, onde a concentração do rally em ações de tecnologia levanta alertas sobre a sustentabilidade, e os mercados emergentes. Para o Brasil, a sustentabilidade da política fiscal é a crítica mais urgente, pois a deterioração persistente do déficit impõe um limite à capacidade do país de reduzir os juros reais. A despeito do aumento do risco político e fiscal interno, o fluxo comprador para Emerging Markets beneficiou o Brasil, indicando que a alocação de capital global segue sensível a ativos com valuation atrativo, mesmo com alta volatilidade. A estratégia de gestão continua focada em proteger o capital dos riscos fiscais, mantendo a seletividade e o foco em companhias com sólidos fundamentos e balanços capazes de navegar o ciclo de juros elevados.