Prezados investidores,
Setembro de 2025 foi marcado pela persistente incerteza, com a dinâmica da inflação e o desempenho atípico das bolsas americanas no centro das atenções. Nos Estados Unidos, a inflação manteve-se em patamares elevados, mas o foco do mercado se deslocou para a concentração do rally nas ações e os sinais de euforia, enquanto o Federal Reserve (Fed) indicou cautela. Na China, a economia continuou a sinalizar desaceleração. O Brasil manteve o ciclo de juros, mas o cenário fiscal se deteriorou visivelmente. O ambiente global continuou sob pressão devido à continuidade dos conflitos geopolíticos e às tarifas comerciais.
Estados Unidos
Nos EUA, a inflação continuou a pressionar, mas com sinais de moderação. O núcleo do CPI variou 0,23% mês contra mês em setembro, o que ajudou a aliviar parte das preocupações do Fed sobre uma aceleração inflacionária descontrolada. A inflação anualizada (CPI) subiu para 3,0% em setembro, levemente acima de agosto (2,9%). Embora a economia americana tenha demonstrado resiliência, com revisões do crescimento do PIB para o terceiro trimestre sendo elevadas por economistas, o mercado de ações gerou maior cautela. As bolsas americanas, em especial o S&P 500 e o Nasdaq, atingiram novas máximas históricas. Contudo, essa alta foi altamente concentrada em um número reduzido de ações, o que levantou preocupações sobre a sustentabilidade do rally e o risco de reversão. A valorização simultânea do ouro e das ações também apontou para um padrão atípico, historicamente associado a períodos de instabilidade profunda, reforçando a cautela sobre os níveis de preço e a presença de operações com “deals circulares” que inflam o volume sem adicionar valor real.
Europa
Na Zona do Euro, a atividade econômica manteve o passo de recuperação gradual. O BCE, em sua reunião de setembro, reiterou a manutenção da taxa de depósito em 2,0%, em linha com a inflação que se manteve próxima da meta. O foco do mercado europeu se voltou para as finanças domésticas de alguns membros, com especial preocupação em relação à crise fiscal na França, onde os yields da dívida superaram os da Itália pela primeira vez na história recente, acendendo o alerta sobre a estabilidade fiscal de países centrais do bloco.
China
A economia chinesa continuou a desacelerar no 3º trimestre, com o crescimento do PIB anualizado atingindo 4,8% (abaixo da meta oficial de 5% e do trimestre anterior). Os preços ao consumidor voltaram a cair em setembro, indicando a persistência da pressão deflacionária, principalmente para produtores, o que sugere a necessidade de mais estímulos. O setor de comércio exterior da China sentiu os efeitos da escalada protecionista global, mas a expansão das vendas no varejo, de 4,5%, deu algum suporte ao crescimento geral.
Suíça
Na Suíça, a estabilidade é a marca, com a inflação anual permanecendo em um patamar baixo, por volta de 1,5%. O franco suíço continuou a ser percebido como um ativo de refúgio, e o Banco Nacional Suíço (SNB) manteve a cautela, monitorando os desdobramentos globais e o impacto da política monetária e fiscal de seus vizinhos na Zona do Euro.
Japão
O Japão manteve a cautela em sua política monetária. O iene permaneceu enfraquecido, com os mercados monitorando atentamente qualquer sinal de que a inflação aquecida globalmente e a alta dos juros em outras economias possam forçar o Banco do Japão (BoJ) a abandonar sua postura de acomodação. A normalização monetária japonesa é um ponto de inflexão esperado para o mercado de renda fixa global de longo prazo.
Brasil
No Brasil, o cenário de política monetária continuou previsível: o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Taxa Selic em 15,00% ao ano em sua reunião de setembro. O grande ponto de atenção, no entanto, foi a acentuada deterioração da situação fiscal, ofuscando a estabilidade monetária. O Governo Central registrou um déficit primário de R$ 39,365 bilhões no acumulado de 12 meses até setembro. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) subiu para 78,1% do PIB em setembro. Esses dados de piora fiscal, aliados à manutenção dos juros em 15%, reforçaram a percepção de desalinhamento entre a política monetária e a política fiscal no país. A dificuldade em controlar a trajetória da dívida sugere que o país pode não conseguir reverter a tendência de crescimento do endividamento, mantendo o prêmio de risco elevado para os ativos locais.
Adicionalmente, as tensões geopolíticas com os Estados Unidos continuaram a pesar sobre o sentimento. Embora o governo brasileiro tenha negociado o alívio de parte das tarifas, o risco de tarifas de 50% sobre uma parcela significativa da pauta exportadora permanece, pressionando a produção local e o câmbio. No plano doméstico, o ambiente político eleitoral para 2026 começou a ganhar corpo, com a polarização persistente e o debate sobre o Código Eleitoral adicionando volatilidade. A contínua saída de capital estrangeiro da bolsa brasileira durante o mês limitou a performance do mercado local frente aos desenvolvidos, refletindo a cautela dos investidores globais em relação ao risco Brasil, que é agravado pela indefinição fiscal, comercial e política.
Considerações Finais
Setembro consolidou a fragilidade do rally nas bolsas desenvolvidas e a crescente preocupação com o risco fiscal em economias emergentes. Nos Estados Unidos, a euforia do mercado de ações, altamente concentrada, exige cautela redobrada. No Brasil, embora a política monetária siga firme em seu combate à inflação com a Selic em 15%, a deterioração fiscal e o acúmulo de dívida se estabelecem como a maior vulnerabilidade do país. A manutenção do capital estrangeiro em movimento de saída sinaliza que, apesar dos juros reais elevados, os riscos domésticos (fiscal, político e cambial) estão pesando mais na decisão de alocação global. A estratégia segue baseada na seletividade e na proteção contra a incerteza fiscal e a vulnerabilidade de mercado. Seguimos atentos aos desdobramentos da política monetária global, à dinâmica cambial e, especialmente, aos riscos fiscais e políticos locais, ajustando nossa estratégia para preservar capital e aproveitar oportunidades durante a transição do ciclo econômico mundial.