Prezados investidores,
Julho foi marcado por continuidade das tendências macroeconômicas recentes: nos Estados Unidos, o PIB do 2º trimestre surpreendeu positivamente, enquanto a inflação manteve-se moderada, levando o Fed a manter cautela; na zona do euro, a inflação anual ficou em torno de 2,0% com o crescimento econômico ainda anêmico; na China, o setor industrial permaneceu sob forte pressão, reforçando a expectativa de novos estímulos. No Brasil, os indicadores apontaram resiliência: a inflação arrefeceu (IPCA em 5,30% ao ano até meados de julho) e o PIB cresce em linha com projeções, sustentado pelo consumo e investimentos. O ambiente global segue incerto, mas observou-se avanço em acordos comerciais (EUA-UE-Japão e Mercosul-EFTA) e episódios de conflito político – como as sanções e tarifas americanas ao Brasil – foram parcialmente absorvidos pelos mercados.
Estados Unidos
Nos EUA, o crescimento do PIB no 2º trimestre foi robusto (+3,0% anualizado), revertendo a contração do trimestre anterior, mas o avanço refletiu sobretudo uma forte queda nas importações. A inflação mostrou sinais de ligeira aceleração: o índice PCE subiu 2,6% em 12 meses até junho (o CPI atingiu 2,7% em junho, ante 2,4% em maio), principalmente pressionado por reajustes nos preços de bens importados. O Federal Reserve manteve a taxa básica em 4,25%-4,50% em sua reunião de julho, reiterando que as decisões monetárias seguirão estritamente os dados econômicos, sem ceder a pressões políticas externas. Em comunicado, os dirigentes do Fed apontaram que a incerteza quanto ao cenário econômico permanece elevada. No mercado, as bolsas americanas ficaram em leve alta, o dólar valorizou-se moderadamente e os rendimentos dos títulos públicos avançaram, refletindo expectativas de inflação persistente. Na parte mais longa da curva de juros, a alta chamou a atenção também refletida em outros mercados globais, levando a ponderação de uma expectativa de inflação mais longa por mais tempo, o que ajudou a reforçar o rally nas cripto moedas, com destaque para o Ethereum, que subiu mais de 50% no mês.
Europa
Na zona do euro, a inflação anual em julho situou-se em cerca de 2,0%, próxima da meta do BCE, enquanto o núcleo inflacionário (sem energia e alimentos) manteve-se em torno de 2,3%. A atividade econômica segue fraca: o PIB do 2º trimestre cresceu apenas 0,1%, com alguns países-chave (Alemanha e Itália) ainda em contração. Em resposta, o BCE manteve a taxa de depósito em 2,0%, após sucessivos cortes recentes, e sinalizou que futuras decisões dependerão do ritmo inflacionário. O euro valorizou-se levemente frente ao dólar, depois de chegar a quase US% 1,18, caindo para cerca de US$1,14 ao final de julho, refletindo dados econômicos moderados e notícias de novos acordos comerciais. Entre eles, os EUA fecharam tratados tarifários de 15% com a UE e o Japão, além de estenderem a trégua com a China, aliviando parcialmente o risco de confronto comercial. Esses pactos suscitaram críticas de líderes europeus tradicionais, preocupados com impactos negativos em suas indústrias domésticas. No plano doméstico, alguns governos europeus, como o alemão, propõem reforçar o estímulo fiscal para impulsionar o crescimento diante do desaquecimento monetário.
China
A economia chinesa desacelerou, com o PIB em 5,2% no 2º trimestre (ante 5,4% no 1º trimestre). O setor manufatureiro continuou em contração: o PMI oficial de julho foi de apenas 49,3, refletindo queda nos pedidos de exportação e demanda doméstica fraca. O setor imobiliário segue lento, com altos estoques, e o consumo interno não dá sinais robustos de retomada. As autoridades sinalizaram necessidade de maiores estímulos fiscais e monetários para alcançar a meta de ~5% ao ano, o que levou o FMI a elevar sua projeção de crescimento para 2025 a 4,8%. Ao mesmo tempo, foram ressaltados esforços para conter a deflação de produtores: aumentos de preços de alimentos para produtores podem ter segundo efeito na inflação, segundo o governo. De modo geral, a China avança com reformas graduais, mas os indicadores industriais reforçam a expectativa de apoio adicional à economia.
Brasil
O real oscilou em torno de R$5,60 por dólar em julho, apoiado pelo diferencial de juros e pela relativa estabilidade da inflação. Na primeira reação às ameaças comerciais americanas, o real chegou a R$5,6277 (máxima de cinco semanas) para depois recuperar-se a R$5,544 (+0,5%) no dia seguinte. O Ibovespa cedeu cerca de 0,5% neste episódio, principalmente por perdas em bancos, mas estabilizou-se em patamares próximos aos 132 mil pontos. No campo tributário, tentativas do governo de elevar o IOF sobre investimentos estrangeiros foram bloqueadas pelo STF, mantendo o imposto inalterado por enquanto. Em contrapartida, houve avanços nos acordos comerciais: em 2 de julho foi anunciado um amplo tratado de livre-comércio entre o Mercosul e a EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), ampliando acesso tarifário a 97% dos bens. Entretanto, no fim do mês os EUA impuseram tarifas de 50% sobre grande parte das exportações brasileiras, com várias isenções, e aplicaram sanções a um ministro do STF, num episódio que aumentou a tensão diplomática.
O PIB do primeiro trimestre foi revisado para crescimento de 1,4% em relação ao trimestre anterior, puxado pelo agronegócio e pelos serviços. A inflação desacelerou: o IPCA-15 de julho subiu 0,33% no mês (ante 0,26% em junho), e acumula 5,30% em 12 meses. O Copom mantém a Selic em 15% (o maior nível desde 2006) e sinaliza uma pausa prolongada, na expectativa de arrefecimento adicional dos preços. O mercado de trabalho continua apertado e sustenta o consumo interno, o que deve manter o PIB robusto. Analistas projetam crescimento de cerca de 2,2% em 2025 e ressaltam que a trajetória fiscal e o cumprimento das metas continuam desafiadores. Em suma, a combinação de juros reais elevados e fundamentos relativamente sólidos continua a tornar os ativos brasileiros atraentes, no entanto os níveis de preços e agenda política prospectiva piorou a percepção de segurança antes vista no Brasil. Isso foi possível de ser comprovado com uma saída relevante de capital estrangeiro da B3, e do fraco desempenho do mercado local vis-à-vis os desenvolvidos.
Suíça
Na Suíça, a inflação anual permanece muito baixa (ao redor de 1,5%) e o franco suíço tem-se valorizado como porto seguro. Após novos cortes em meados de 2025, a taxa de depósito do SNB está em 1,25%, já próximo de níveis nulos, refletindo o baixo patamar de preços. Membros do Banco Nacional Suíço reafirmaram que ainda há espaço de manobra: juros negativos não estão descartados caso seja necessário estimular a inflação. O impacto do pacote de estímulos fiscais na Alemanha vizinha tende a reduzir pressões de desvalorização no franco, enquanto o SNB monitora possíveis efeitos de eventuais choques globais na economia doméstica.
Japão
O Banco do Japão (BoJ) manteve a taxa de curto prazo em 0,5% na reunião de julho, revisando para cima suas projeções de inflação – agora em 2,7% para o ano fiscal vigente. O núcleo da inflação ao consumidor segue abaixo da meta, mas pressões de custos (especialmente nos alimentos) vêm se disseminando. O recente acordo comercial com os EUA reduziu tarifas sobre automóveis japoneses, aliviando parte das preocupações do setor exportador. Apesar disso, o iene continua enfraquecido (próximo a ¥160 por dólar) frente à flexibilização americana e aos desequilíbrios globais. O PIB do 1º trimestre recuou 0,4%, refletindo consumo interno fraco e impacto da desaceleração externa. As discussões sobre normalização monetária japonesa estão apenas começando: os mercados agora monitoram se a gradual alta dos juros globais e a inflação aquecida forçarão o BoJ a aumentar a postura.
Considerações Finais
Julho consolidou uma tendência de acomodação monetária em economias desenvolvidas, diante da inflação controlada. Nos EUA, a retomada do PIB e a inflação em torno da meta mantiveram o Fed cauteloso, mas aumentaram a incerteza sobre o momento ideal de cortes. A China continuou a decepcionar nas indústrias, reforçando a necessidade de estímulos, enquanto a Europa equilibra políticas monetárias frouxas com estímulos fiscais e acordos comerciais para impulsionar o crescimento. O Japão volta a figurar no debate global com sinalizações de normalização gradual de sua política monetária, o que deve repercutir nas taxas de juros de longo prazo. No Brasil, o cenário permaneceu construtivo, com inflação em desaceleração, PIB forte e real relativamente valorizado. A sustentabilidade fiscal continua sendo um ponto crítico, mas os ativos domésticos seguem beneficiados pela combinação de juros reais elevados e fundamentos sólidos. Seguimos atentos aos desdobramentos da política monetária global, à dinâmica cambial e às variáveis fiscais locais, ajustando nossa estratégia para preservar capital e aproveitar oportunidades durante a transição do ciclo econômico mundial.