Prezados investidores,
Abril foi marcado por uma intensificação das tensões comerciais globais, com os Estados Unidos implementando tarifas significativas sobre produtos chineses, desencadeando retaliações por parte de Pequim. Esses movimentos adicionaram volatilidade aos mercados e pressionaram as cadeias de suprimento globais. Enquanto isso, os bancos centrais das principais economias mantiveram posturas cautelosas diante de dados econômicos mistos e perspectivas inflacionárias incertas.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o PIB do primeiro trimestre contraiu 0,3% em termos anualizados, impactado por um aumento expressivo de 50,9% nas importações, à medida que empresas anteciparam compras antes da implementação das tarifas sobre produtos chineses. Apesar disso, indicadores domésticos, como as vendas finais para compradores privados, cresceram 3%, sugerindo resiliência na demanda interna.
A inflação, medida pelo índice de Preços ao Consumidor (CPI), apresentou uma surpresa positiva em março. O índice geral caiu 0,1% no mês, após um aumento de 0,2% em fevereiro. No acumulado de 12 meses, o CPI avançou 2,4%, abaixo dos 2,8% registrados em fevereiro, marcando o menor nível desde setembro de 2024. O núcleo do CPI, que exclui alimentos e energia, subiu 0,1% no mês e 2,8% no acumulado anual, a menor alta desde março de 2021.
A inflação medida pelo PCE, por outro lado, acelerou para 3,6% em março, acima da meta de 2% do Federal Reserve, complicando as perspectivas para cortes de juros no curto prazo. A autoridade monetária permanece cautelosa, monitorando de perto os impactos das tarifas comerciais e outras pressões inflacionárias antes de considerar ajustes na taxa de juros.
Europa
Na zona do euro, a inflação anual permaneceu estável em 2,2% em abril, com a inflação de serviços subindo para 2,7%, refletindo pressões salariais persistentes. O BCE cortou as taxas de juros em 25 pontos-base, buscando estimular a economia diante de sinais de desaceleração, especialmente na Alemanha, onde as vendas no varejo caíram 0,2% em março. As expectativas de inflação dos consumidores aumentaram, com projeções de 2,9% para os próximos 12 meses, indicando preocupações contínuas com o poder de compra.
China
A economia chinesa cresceu 5,4% no primeiro trimestre em relação ao ano anterior, superando as expectativas. No entanto, em abril, o PMI manufatureiro caiu para 49,0, indicando contração na atividade industrial, devido à implementação das tarifas dos EUA e à consequente queda nas exportações. Analistas agora projetam um crescimento anual de 4,5% para 2025, abaixo da meta oficial de 5%, refletindo os desafios impostos pelas tensões comerciais e pela demanda interna enfraquecida.
Brasil
O real apresentou leve apreciação ao longo de abril de 2025, com o dólar recuando em torno de 0,5% no mês. A moeda americana encerrou abril cotada próximo de R$5,67, acumulando queda de cerca de 8% no ano. Essa valorização do real foi propiciada por uma combinação de fatores: ingresso de capital estrangeiro em busca dos elevados juros reais domésticos, indicadores locais vindo em linha com as expectativas, e alívio no cenário externo. Externamente, o enfraquecimento global do dólar – refletido na queda de mais de 4% do índice DXY em abril – contribuiu para fortalecer moedas emergentes.
Sinais de que o Federal Reserve poderia pausar o ciclo de aperto monetário moderaram a demanda por dólar, incentivando fluxos para mercados com retornos mais atrativos. Adicionalmente, a redução de tensões comerciais entre EUA e China melhorou o apetite por risco, abrindo espaço a maiores fluxos para países em desenvolvimento e sustentando a demanda por moedas como o real. No âmbito doméstico, a continuidade de superávits na balança comercial e dados de inflação em linha com o projetado reforçaram a tendência de fortalecimento cambial. Também merece destaque a sinalização mais técnica do governo na condução da política fiscal, fator que reduziu a volatilidade e favoreceu um ambiente mais construtivo para o real, apesar de alguma cautela política remanescente.
Historicamente, movimentos de apreciação do real tendem a ter impactos setoriais distintos: a valorização cambial prejudica empresas exportadoras (que passam a receber menos em moeda local por suas vendas externas), ao mesmo tempo em que beneficia companhias dependentes de insumos importados ou com dívida em dólar, devido à redução de custos de importação e do valor em reais de seus passivos em moeda estrangeira. Esse padrão pôde ser observado em abril no desempenho dos ativos domésticos.
A bolsa brasileira teve mais um mês positivo. O Ibovespa avançou 3,69% em abril, aproximando-se novamente dos 137 mil pontos – patamar próximo ao recorde histórico registrado no fim de agosto do ano passado. O índice acumulou alta de 12% no ano (até abril) e mostrou recuperação após um primeiro trimestre fraco. A entrada líquida de recursos estrangeiros foi decisiva para essa performance: em 2025, o fluxo externo para a B3 já soma cerca de R$ 8 bilhões, e a retomada dos aportes a partir da metade de abril sustentou a forte valorização do Ibovespa na segunda quinzena do mês. Investidores globais promoveram uma rotação em direção a mercados emergentes diante de perspectivas mais benignas no front externo, e o Brasil – com juros elevados e ativos descontados – figurou entre os destinos favorecidos desses fluxos.
Do ponto de vista setorial, houve clara divergência entre empresas voltadas ao mercado interno e exportadoras. Bancos e consumo doméstico lideraram os ganhos. O setor financeiro, de grande peso no índice, teve recuperação expressiva: Itaú (ITUB4) subiu +13,3% no mês, acompanhado por Santander (SANB11) +12,2% e Bradesco (BBDC4) +10,5%. Varejistas e empresas de educação também figuraram entre os destaques positivos, com diversas ações registrando valorização superior a 20% em abril – caso do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), que avançou +36,9%. Esse movimento reflete a aposta de investidores em setores domésticos relativamente protegidos das turbulências externas e possivelmente beneficiados pela perspectiva de queda dos juros mais adiante.
Em sentido oposto, as exportadoras de commodities foram as principais detratoras no mês. A correção nos preços internacionais do minério de ferro e do petróleo, em meio a preocupações com uma desaceleração da economia global, penalizou as blue chips ligadas a commodities. A Vale (VALE3) fechou abril em queda de 6,5%, enquanto a Petrobras recuou de forma ainda mais acentuada – -17,3% nas ações PN (PETR4) e -19,7% nas ON (PETR3). A apreciação cambial contribuiu para esse quadro, ao reduzir em parte a receita em reais dessas companhias exportadoras.
Por outro lado, empresas voltadas ao mercado interno ou dependentes de importações tiveram desempenho relativamente melhor, beneficiadas pelos menores custos em dólar – coerente com o efeito setorial típico da valorização do real mencionado anteriormente. Entre os piores desempenhos individuais do Ibovespa no mês apareceram companhias aéreas e petrolíferas de médio porte, segmentos mais alavancados e sensíveis ao câmbio e às commodities. A Azul (AZUL4) liderou as perdas despencando -55% em abril, reflexo de uma oferta de ações malsucedida e de preocupações com seu elevado endividamento em dólar. Já petrolíferas independentes como Brava Energia (BRAV3, -24,8%) e PRIO (PRIO3, -14,8%) sofreram com a queda do petróleo, que reduziu suas margens e perspectivas de geração de caixa. Apesar desses entraves, a alta de setores domésticos e bancários prevaleceu, permitindo que o Ibovespa encerrasse abril com desempenho robusto.
A IPCA-15 de abril – prévia da inflação oficial – confirmou a tendência de desinflação gradual. O índice avançou 0,43% no mês, desacelerando em relação aos 0,64% registrados em março. Esse resultado veio exatamente em linha com as projeções de mercado, que estimavam +0,43% na comparação mensal e alta de 5,49% em 12 meses. No acumulado de 2025, o IPCA-15 alcançou 2,43%, enquanto a variação interanual atingiu 5,49%, ligeiramente acima dos 5,26% observados nos 12 meses até março. A desaceleração de abril deveu-se principalmente à deflação no grupo de Transportes (-0,44% no mês), que ajudou a compensar os aumentos em Alimentação e bebidas (+1,14%) e Saúde e cuidados pessoais (+0,96%) – estes dois últimos grupos responderam juntos por 88% da inflação do mês. A forte pressão em alimentos (especialmente in natura) e saúde refletiu ajustes sazonais e pontuais, mas de modo geral a leitura veio dentro do esperado, sem surpresas de alta. O fato de a inflação corrente mostrar arrefecimento reforça a percepção de que o pico inflacionário ficou para trás; ainda assim, o nível em 12 meses em torno de 5,5% permanece acima da meta e evidencia que o processo de desinflação exigirá acompanhamento cauteloso. O Banco Central, portanto, tende a manter uma postura vigilante, aguardando sinais mais claros de convergência inflacionária antes de considerar eventuais cortes na taxa Selic.
Mercados
Os mercados globais enfrentaram volatilidade em abril. O dólar americano se depreciou de forma generalizada, refletindo a percepção de fim de ciclo de alta nos EUA. O ouro valorizou-se e atingiu máximas históricas, impulsionado pela busca por proteção em meio ao ambiente geopolítico ainda carregado. A performance dos principais índices acionários foi mista, com destaque negativo para as bolsas norte-americanas.
Considerações Finais
O cenário global permanece desafiador, com políticas comerciais protecionistas nos EUA, ajustes monetários na Europa e incertezas na China. Grande parte do movimento nas moedas vem de uma visão que hoje vale mais apenas ter qualquer outro tipo de ativo do que aqueles denominados em dólares. Isso causou esse grande movimento global nas moedas. No entanto, esse movimento é bastante especulativo, uma vez que o cenário que nos levou a essa conclusão já começou a se reverter, sendo que diversas moedas parecem tecnicamente esticadas, com algumas enfrentando problemas domésticos que se agravaram, se apoiando numa promessa de expansão fiscal que vai contra diversas populações locais.
No Brasil os sinais de desinflação e a valorização do câmbio abriram espaço para recuperação dos ativos de risco. A combinação de fluxo externo e fundamentos relativos atrativos sustenta uma visão construtiva para o país no curto prazo, ainda que com atenção redobrada ao cenário externo e às decisões de política monetária nos países centrais. No entanto, o cenário interno fiscal tem se deteriorado e o movimento de apreciação no câmbio ajuda a mascarar alguns problemas internos recentes. Além disso, o Brasil tem sido poupado dos ataques americanos, algo que pode mudar rapidamente. Estamos numa situação estrategicamente bastante delicada com o pivô do foco da política externa americana do ocidente para a Ásia, por sermos o “B” dos Brics, um grande parceiro comercial chinês, um inimigo político ao atual governo de direita. Se o EUA tratou seu mais longo aliado, o Canada, da forma como tratou, imaginamos o que poderia fazer conosco, caso se convencesse que fosse necessário. Esse cenário hoje para nós é o principal, mas não está sendo considerado em geral nem pelo mercado, nem pela mídia.